Visitei variados lares e, nesses, a disposição dos
figurantes é quase sempre a mesma: sentados em cadeiras mais ou menos
confortáveis, dispostas em semicírculo, a televisão ligada a descrever e transmitir
doenças e o respectivo calcitrinho para a sua cura. Os utentes, de cabeça caída
uns, outros gemendo a invocar a presença de alguém que os ajude e, muitos, de
olhar vazio num passado que deles se apossou.
Se eu conseguisse mobilizar a minha energia para me associar
a um grupo de voluntários, em equipas de dois ou três, de preferência jovens, para
periódica e sistematicamente visitar esses lares e tentar animar os seus
utentes?!
Supostamente, não serei original, e com um motor de busca
procurei na internet grupos com perfil para responder ao preenchimento do vazio
de muitos lares. Encontrei muitos grupos de voluntariado, mas nenhum me pareceu
corresponder às necessidades identificadas. Para a solidariedade com os
animais, encontrei a disponibilidade de muitos jovens.
Abri um sítio que me pareceu o indicado, o duma instituição
de renome, que na ficha de inscrição se definia:
1.Objetivo Geral: Promoção da autonomia do utente
2.Função: Acompanhamento Personalizado do Idoso
Fiquei animado, por pensar ter encontrado, finalmente, parte
do que procurava, mas logo a seguir, na mesma ficha de inscrição podia ler-se
3.Tarefas a desenvolver pelo(s) voluntário(s): Acompanhar os
utentes à capela e no regresso à sala.
Caí em mim.
Nem a criação de grupos para acompanhar os utentes dos lares
à sua última morada deve precisar da formalização de equipas de voluntariado.
Faz parte das Obras de Misericórdia Corporais (7ª.Enterrar os mortos).
Vou entendendo o silêncio a uma carta por mim dirigida ao
Presidente duma Associação Social Paroquial, após a minha saída da vida
profissional e autárquica, disponibilizando-me, em regime de voluntariado, para
fazer qualquer tarefa ou desempenhar funções no âmbito das obras sociais dessa
mesma paróquia. Já lá vão uns anos.