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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

VIVER DOS MORTOS

     Com alguma nostalgia, quis recordar, em tarde amena de agosto e descontraído passeio, locais marcantes da minha infância, o quintal e o espaço vazio da casa onde nasci, a fonte dos rolos, coberta de silvas, onde num cântaro ao ombro se ia buscar água para matar a sede em casa, o pinhal onde, numa alcofa ou em feixe, ia em busca de caruma, pinhas ou cavacos secos para à lareira cozinhar o jantar e a ceia, a escola onde para aprender mais depressa, eu e alguns dos meus amigos, levávamos pesadas reguadas nas palmas das mãos, vermelhas, a torre do sino onde, às vezes, tocava as trindades, a igreja onde me batizaram, assistia à missa, fiz a primeira comunhão, a comunhão solene e fui crismado, o seu adro onde brinquei ao arco, ao botão, à macaca e ao pião, e o cemitério onde descansam em paz, entre outros, os meus saudosos parentes.

     -Agora, não, mas teria morrido de susto.

     Ressuscitou o fantasma que colonizou a minha infantil e débil estrutura mental. - Estou à vossa espera.

     O pavor em passar junto ao cemitério, quando tinha que ir à lenha, aproveitando para brincar ao escorrega, assolava-me a alma dos pés à cabeça.

     Em memória e sinal de respeito, é preciso aliviar os nossos mortos do peso sufocante de tanta pedra útil para a construção de abrigos para muitos dos vivos, nossos semelhantes.

     -Fantasia minha?!

     Uma cascata, uma árvore, um banco e uma flor. A ouvir o vento que passa.


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